quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Alergia x Intolerância alimentar

        A alergia e intolerância alimentar têm se tornando cada vez mais frequentes na população. No entanto, os termos ainda são confundidos.
        A diferença está no tipo de resposta do organismo quando entra em contato com o alimento.
        Veja abaixo as principais diferenças entre a alergia e a intolerância alimentar.

ALERGIA ALIMENTAR: 

Conceito: hipersensibilidade causada pela exposição a um alimento ou aditivo alimentar. Ocorre uma resposta imunológica exagerada a determinadas proteínas alimentares, sendo estas mesmas quantidades/doses toleradas quando ingeridas por pessoas saudáveis.
        A alergia alimentar pode ser classificada em tóxica (depende da substância ingerida) ou não tóxica (dependente da susceptibilidade individual do indivíduo).
        Os principais fatores relacionados à alergia alimentar são: hereditariedade, exposição ao alimento, permeabilidade gastrointestinal e fatores ambientais (exposição ao alimento).
        Os sinais e sintomas (manifestação) estão relacionados ao mecanismo imunológico envolvido. As reações podem ocorrer em qualquer idade ou na primeira exposição conhecida ao alimento.
Mesmo que a manifestação seja leve numa ocasião, nada impede que ocorram episódios mais graves em contatos posteriores com aquela comida.

Diagnóstico: dependente da história clínica associada aos exames laboratoriais
Avaliação clínica: o paciente deve relatar os sintomas percebidos ao ingerir alimentos, sendo possível, em algumas situações, relacionar o surgimento dos sintomas com a ingestão de determinado alimento. Pode ser necessária uma investigação mais minuciosa quando as reações ocorrem horas após a ingestão do alérgeno.
       Na investigação, os principais aspectos a serem investigados são:

  • Qual(is) o(s) alimento(s) suspeito(s)?
  • Qual foi o tempo entre a ingestão do alimento e o aparecimento dos sintomas?
  • Qual a menor quantidade do alimento suspeito ingerido, capaz de deflagrar as reações?
  • Quais foram os sinais e sintomas? 

Teste alérgico ou Teste cutâneo de hipersensibilidade imediata: após a avaliação clínica, o médico determina quais as substâncias podem ter importância no quadro clínico e as avalia individualmente.
        É realizado no antebraço, colocando-se pequenas porções do alérgenos e aguardando 15 a 20 minutos. A reação positiva consiste na formação de uma pápula vermelha, semelhante a uma picada de mosquito. Esta reação indica presença de IgE específica ao alimento testado.

Exames laboratoriais: concentrações elevadas de IgE estão associadas à alergia.
       O padrão-ouro para o diagnóstico é o teste de provocação oral, duplo-cego e controlado por placebo. O teste deve ser realizado em dias diferentes, sendo um para o alimento e outro para o placebo. O alimento oferecido deve ter sua cor sabor e odor mascarado.

Outros testes: quando a avaliação física e os testes laboratoriais indicam uma reação imunológica não mediada por IgE, mas sim por células, podem ser necessários testes complementares para confirmar o diagnóstico. Exemplos: biópsia gastrointestinal ou teste de hidrogênio aspirado.

Tratamento:
Exclusão dos alimentos que causam a alergia. Posteriormente, estes alimentos devem ser testados por meio das provas de desencadeamento.

Os alimentos mais comumente envolvidos na alergia alimentar são: abóbora, arroz, banana, batata, camarão, carne suína, centeio, chocolate, leite de vaca, mariscos, milho, oleaginosas (amendoim, avelã, pistache, nozes), ovos, peixes (anchova, sardinha, salmão ou o bacalhau do tipo Gadus morhua), peru, soja e trigo.
       Os alimentos podem também provocar “reações cruzadas”, ou seja, alimentos diferentes podem induzir respostas alérgicas semelhantes no mesmo individuo. O paciente alérgico ao leite de vaca pode não tolerar consumir carne bovina porque ambos possuem albumina bovina na composição.
A prevenção da alergia alimentar é feita por meio de orientações dadas aos responsáveis por recém-nascidos. Estas recomendações incluem: introdução de alimentos sólidos após o sexto mês de vida; o leite de vaca puro deve ser oferecido somente após os doze meses; O ovo inteiro pode ser oferecido somente após um ano de idade. A gema pode ser oferecida antes, sendo recomendada a quantidade de 1/4 de gema de ovo cozida aos nove meses de idade e somente após quinze dias pode-se oferecer metade de uma gema. Após outros quinze dias a gema inteira, desde que o bebê não apresente nenhum sintoma; o amendoim, nozes e peixes somente devem ser incluídos na dieta após os três anos de vida.

INTOLERÂNCIA ALIMENTAR:

Conceito: alterações que podem ocorrer nos processos metabólicos de digestão e absorção de determinado componente do alimento, geralmente devido à deficiência enzimática, sem haver envolvimento da resposta imunológica neste processo.
        Os alimentos mais comumente envolvidos na intolerância alimentar são: banana, frutas cítricas, carnes processadas, repolho, vinho tinto, corantes alimentícios, grãos com glúten, leite e seus derivados.

O mecanismo de intolerância alimentar inclui:
•Liberação de histamina: frequentemente decorrente da exposição a chocolate, tomates, espinafres, morangos, ovos, peixe, mariscos, abacaxi e canela.
•Deficiência enzimática: a deficiência de enzimas faz com que o organismo não faça a digestão adequada do alimento. As mais comuns são: a deficiência da enzima lactase responsável pela digestão do açúcar presente no leite (lactose); a doença celíaca é causada pela intolerância ao glúten (proteína encontrada no trigo, cevada, centeio e seus derivados). O tratamento de ambas consiste de uma dieta isenta de lactase ou glúten, respectivamente.
•Reações farmacológicas: ocorrem em resposta às aminas (encontradas em alimentos que contêm nitrogênio. Exemplos: chá, café, bebidas à base de cola e chocolate).
•Efeitos irritantes: alimentos como o curry ou o glutamato monossódico podem irritar a mucosa gástrica e intestinal.

Diagnóstico: O exame Food Detective identifica 59 alimentos diferentes que podem podem estar associados à intolerância alimentar.  O teste utiliza o sangue capilar e avalia os anticorpos IgG por método ELISA.

Tratamento: exclusão dos alimentos dos quais há intolerância. Algumas intolerâncias podem ser temporárias, mas, na maioria dos casos, ela acompanha o paciente pelo resto de sua vida.

Resumo da diferença entre a intolerância alimentar e alergia alimentar:

Intolerância alimentar
  • Resposta imunológica
  • Sintomas tardios
  • Pequenas quantidades podem desenvolver a resposta imunológica
  • Testes cutâneos negativos
  • Afeta o organismo por completo
  • Ocorre em crianças e adultos
  • Resposta imunológica mediada por IgG

Alergia Alimentar
  • O organismo não consegue digerir ou metabolizar o alimento, geralmente devido à deficiência enzimática.
  • Sintomas imediatos
  • Quanto maior a quantidade maior são os sintomas
  • Testes cutâneos positivos
  • Pequenas quantidades de alimento são suficientes para desencadear a alergia
  • Frequente em crianças
  • Resposta imunológica mediada por IgE
Referências: 
  • Solé, Dirceu, et al. Consenso Brasileiro sobre Alergia Alimentar: 2007. Rev Bras Alerg Imunopatol 2008; 31(2): 64-89.
  • Ferguson A. Definitions and diagnosis of food intolerance and food allergy: consensus and controversy. J Pediatr 1992;121:S7-11.
  • Aardoom HA, et al. Food intolerance (food hypersensitivity) and chronic complaints in children: the parents' perception. Eur J Pediatr 1997; 156(2): 110-2.